Sexta-feira de sol.
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Me acordam no susto às 5:30, medicação, ai, ai...
Cochilo, e às 6 de novo, toma lá seu comprimido... Não vou sair mesmo daqui, meu compromisso é só as 8... cochilo.
As 7 entra a copeira: café! Não me movo, apetite zero.
Cochilo, porque meu despertador esta para 7:35
As 7 pá, a porta: sinais vitais! Minha frequência cardíaca podia até subir de raiva, mas segue calma como meu semblante, de quem aprendeu a aceitar e ser gentil, sempre.
Agora deu. Coloco o óculos e o mundo acorda para mim com nitidez. Sentar ainda é um ato consciente e doloroso. Ficar em pé é melhor. E é sempre no banheiro, ao lavar meu rosto, que me dou conta da lesão na minha mão esquerda. O rosto sente a mão que não sente o rosto. Meu cérebro acha graça. Eu não!
Abrir a caixinha da lente faço com a esquerda: penso em contar para a terapeuta ocupacional, que vai se orgulhar de mim. Todos os atos cotidianos estão sendo construídos nessa nova condição: escovar os dentes, a lente, o xixi, o cabelo, o banho. E noto minha expertise progredindo bem.
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O sol bate forte na janela do quarto. 7:55 e visto o privativo verde, meu short e tênis verde. Aguardo ansiosa a fisioterapeuta. Cada atividade ganha uma importância única quando a vida esta resumida à uma quarto e à solidão. Passar 45 minutos com alguém dedicado à minha melhora me faz tentar executar cada ação com perfeição. Quero aproveitar cada segundo. Sentir a musculatura trabalhando, algumas abandonadas nos últimos 22 dias. Olho meu corpo no espelho e estranho a magreza de minhas pernas.
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Tem chão Luciana, tem muito chão pela frente... Ainda são 9 horas e só hoje temos mais 15. O tempo aqui passa em horas, minutos. Imagina quando eu começar a contar os dias, semanas? Então calma lá que ninguém está com pressa, e ninguém tem certeza de onde posso chegar. Onde eu quero? É isso que estou descobrindo na próxima atividade, com a psicóloga. Segue a sexta!