Não tenho nenhum histórico de esporte na infância ou juventude. Fui a típica “nerd” e focava toda minha energia nos estudos e depois na carreira de médica. Comecei na corrida por volta dos 30 anos, quando voltei ao Brasil depois de um período na França. A ideia era simplesmente perder de forma rápida e prática os quilinhos a mais que havia ganho. Mas após minha primeira prova de 10k, viciei na sensação deliciosa do desafio. Dali foi um pulo para as meias-maratonas, e em 2013 fiz minha primeira maratona, em Paris.
Percebi que gostava ainda mais das longas distância. Fiz logo 3 maratonas e uma ultra (Two Ocenas), tudo de forma muito intensa. Comprei uma bicicleta (road) no final de 2013, e achava que seria para pedalar nos finais de semana. Não tinha nenhuma experiência com ciclismo ou natação. Mas resolvi experimentar um treino de ciclismo na USP e amei!
Quando comecei a pedalar meu técnico de corrida sugeriu que eu fizesse um short triathlon. Meu grande desafio foi começar a nadar, sem nenhuma experiência prévia. Me matriculei numa academia em novembro já inscrita para o troféu Brasil (última etapa de 2013, em dezembro), e falei para o professor que teria que nadar 750m no mar em um mês.
Lógico que na prova a natação foi um desastre. Nadei cachorrinho, tentei desistir, mas o staff no caiaque me deu força e conclui em 35 minutos a etapa. Sai feliz da vida para pedalar e correr. E completar a prova, com meus filhos pequenos me esperando na chegada, foi uma das coisas mais legais e desafiadoras que fiz na vida!
Voltei de Santos com a meta de conseguir nadar 1900m contínuos em águas abertas para poder fazer um meio ironman. E fui nadando sozinha numa represa que comecei: 500m, 800m… progressivamente. No dia 31 de dezembro de 2013 consegui nadar os 1900m e me inscrevi para o 70.3 de Brasília em abril. Em fevereiro de 2014 fiz o internacional de Santos já com uma bike de triathlon e nadei os 1500m nos mesmos 35m que havia nadado o short.
Hoje já fiz 13 provas de Ironman e 18 de IM70.3. As maiores alegrias e surpresas foram as primeiras provas. No meu primeiro 70.3 em Brasília classifiquei para o Mundial de Mont Tremblant. Algo que eu jamais imaginara! Foi surreal. Acabei fazendo 7 meio-ironmans no período de 1 ano. Sempre bem intensa…
Para 2015 escolhi estrear no ironman. E de novo, larguei sem grandes pretensões e acabei ficando em segundo lugar na categoria, me classificando para Kona. Foi incrível, não só pelo resultado, mas por ter descoberto minha distância favorita.
Acho que depois da primeira vez na distância você nunca mais faz uma prova completamente sem metas ou cobranças. Por isso guardo com muito carinho a lembrança desse meu primeiro ironman.
Desde o início na corrida treinei na assessoria MPR. No final de 2018 troquei de técnico pela primeira vez. Assim, tivemos algumas mudanças na metodologia de treino e acabei fazendo a maior parte deles sozinha. Fiz o Ironman de Frankfurt no primeiro semestre, e por ser campeonato europeu, o start list é fortíssimo. Mas tive um resultado ótimo e fiz um pedal excelente, que foi o foco do primeiro semestre. No segundo semestre a ideia era fazer Kona e se tivesse bem, fazer o iron de Mar del Plata para tentar garantir a vaga de Kona para 2020. Deu tudo certo! Encerrei o ano já classificada, o que possibilitou organizar de forma diferente o calendário para 2020.
Entretanto 2020 nos preparou o desafio da pandemia. Consegui fazer uma única prova, o Ironman 70.3 Bariloche, e fui campeã geral na Track and Field 5k em março. Depois todas as provas foram canceladas.
Em janeiro de 2021 sofri um acidente num treino de bike. Tive uma fratura de coluna e também do antebraço esquerdo. Depois de 1 mês hospitalizada, comecei um desafio de voltar ao esporte do zero, reaprendendo a correr, pedalar e nadar.
Essa é a pergunta que mais me fazem. Trabalho no Serviço de Transplantes de Órgãos da Faculdade de Medicina da USP e sou apaixonada pela minha profissão. Comecei minha carreira muito nova. Me formei em 2001, com 21 anos. Consegui fazer carreira acadêmica e conquistar algumas coisas bastante significativas profissionalmente antes de começar no triathlon. Mas mesmo já fazendo ironman defender a Livre Docência em 2017
Além da profissão, tenho 2 filhos de 8 e 10 anos, que são meus grandes incentivadores no esporte, e já cresceram me vendo nessa loucura da multi-tarefa. O fato do meu marido ser triatleta, adorar esporte e me apoiar em todas as loucuras facilita e muito!
Algumas coisas que ajudam bastante na logística é que moro perto do hospital e consigo me locomover de bicicleta. Além disso, temos uma piscina da Atlética praticamente dentro do hospital, e consigo nadar nas brechas do trabalho. Sou bastante organizada e gosto dessa rotina super agitada. Sempre fui intensa e gosto de aproveitar todo o tempo que tenho no dia. Acho divertido intercalar a vida de atleta, com treinos na madruga, natação, etc; com minha vida profissional que é completamente outro universo, com doentes graves, alunos, residentes, etc.
O acidente aconteceu em 28 de janeiro de 2021. Em maio voltei a correr, com bastante dor. Pedalar foi um grande desafio, mais psicológico que físico. Mas o apoio familiar e principalmente da equipe multidisciplinar que esteve ao meu lado, permitiu que eu voltasse ao triathlon e às provas!
em agosto de 2021 fiz o Ironman 70.3 Cozumel e conquistei o 3 lugar na categoria
Novembro 2021 Maratona New York 3m 3h11
Abril 2022 Maratona Paris 3h12
Agosto 2022 Ironman Alaska – 3 lugar na categoria e vaga para Kona
Setembro 1 prova Trail Running WTC Campos 21km
Novembro 37km Trail Running Insane Socorro 1 lugar categoria
Tem tanta coisa… e isso que me anima! Tenho vontade de fazer vários ironmans pelo mundo. Tem muitos lugares lindos, e acho um privilégio poder nadar, pedalar e correr em lugares novos. Quero também me aventurar em provas de extreme triathlon, quem sabe o Fodaxaman ou o Patagon.
Além disso tem muitas provas de ciclismo que tenho vontade de fazer, provas de corrida trail, ultramaratonas… O que não me falta é vontade! Espero ter toda vida pela frente para ir realizando esses sonhos
Eu já alcancei no triathlon muito mais do que jamais imaginei. Estou indo para meu sexto ano consecutivo em Kona, e sei o quanto é preciso se dedicar para conseguir a vaga. Nunca foi e nunca será fácil. O que desejo de verdade é me manter no esporte por muitos anos ainda e incentivar muitas pessoas a começarem, principalmente mulheres, independente da idade.
Eu comecei tarde e sem experiência. E posso dizer que o esporte mudou minha vida. Sou muito mais feliz com coisas muito simples. Viver com mais saúde, estar em contato com a natureza, conhecer pessoas, são benefícios que o esporte nos oferece, dentre tantos outros.
Tenho certeza que sou uma profissional muito mais focada e uma mãe mais tranquila graças às lições que vou tirando dessa vida de triatleta.